domingo, 2 de maio de 2010

DOMINGO TEM CULTURA NO AR - Cacá Diegues

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Com alma de principiante, Cacá Diegues retorna a Cannes
como produtor de 'Cinco Vezes Favela'
e jurado de curtas da mostra

02 de maio de 2010
 

  Cacá Diegues está voltando ao Festival de Cannes. Há 46 anos, jovem cineasta, ele foi mostrar seu longa de estreia, Ganga Zumba, na Semana da Crítica. Era o ano de 1964, o golpe militar instituíra uma ditadura que duraria 20 anos, mas, no cinema, e em Cannes, aquela temporada foi gloriosa. Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos também participavam da competição com Deus e o Diabo na Terra do Sol e Vidas Secas. O mundo descobria o Cinema Novo.


Desde então, e nos anos e décadas seguintes, Cacá voltou muitas vezes à Croisette. Ele é o recordista brasileiro no maior festival do mundo. Os Herdeiros, Joanna Francesa e Chuvas de Verão participaram da Quinzena dos Realizadores e três vezes ele pisou naquele tapete vermelho, integrando a mostra competitiva - com Bye Bye Brasil, Quilombo e Um Trem para as Estrelas.

Em 1981, foi jurado e seu júri, presidido pelo diretor francês Jacques Déray, outorgou a Palma a O Homem de Ferro, de Andrzej Wajda, um prêmio político que, na época, fortalecia o sindicato Solidariedade e seu líder, Lech Walesa, numa Polônia que se rebelava contra a dominação soviética.

Cacá regressa a Cannes com alma de principiante. Ele será jurado da Cinéfondation, que atribui a Palma do curta, garantindo a um jovem diretor que seu primeiro filme estará em Cannes. Mas Cacá vai também como produtor. Depois de quatro anos, com a ajuda da Globo Filmes, da Rio Filmes e do empresário Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, sua produtora, a Luz Mágica, conseguiu finalizar Cinco Vezes Favela. Não é um remake do filme homônimo, do começo dos anos 1960, que serviu de vitrine para o Cinema Novo.

O filme antigo foi feito por jovens de esquerda, de classe média, que colocavam na tela as desigualdades sociais da sociedade brasileira. O novo foi feito pelos próprios moradores das favelas.

São cerca de 240 jovens, selecionados entre 600 que se inscreveram para todo tipo de oficinas - de direção, roteiro, fotografia, interpretação, montagem. Eles fizeram seus filmes, cinco episódios que retratam a favela desde o interior. Cacá define o novo Cinco Vezes Favela como "o assalto do centro do poder pelas margens do cinema brasileiro". É um sonho geracional - Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, os grandes patriarcas do moderno cinema brasileiro ministraram aulas, avalizaram essa garotada.

Cacá, que foi crítico - na revista Arquitetura, por volta de 1960 -, e tem alma de cinéfilo não tem pudor ("O filme não é meu") em dizer que Cinco Vezes Favela é "surpreendentemente bom". Ele ouviu isso do próprio Gilles Jacob, presidente do Festival de Cannes. "Esse filme me devolveu o começo de vocês (a geração do Cinema Novo)", lhe disse Jacob. Cinco Vezes Favela será a surpresa brasileira no Festival de Cannes de 2010, que começa dia 12.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100502/not_imp545739,0.php

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